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QUANDO EU VIREI A CHAVE DO LITÍGIO PARA CONCILIAÇÃO

QUANDO EU VIREI A CHAVE DO LITÍGIO PARA CONCILIAÇÃO

Estudei Direito em SP por cinco anos para aprender sobre conflitos e formas de resolvê-los. Queria muito ajudar as pessoas a se entenderem. Só não contava que a maioria das aulas seria sobre litígio. Com isso, percebi que estava ficando craque em ajudar as pessoas a brigarem.

Eu me sentia frustrada e questionava se continuaria ou desistiria do curso. Então decidi concluir e buscar outros caminhos para lidar com os conflitos que não fossem o processo judicial. Já formada, me capacitei em Conciliação e Mediação de Conflitos que são formas alternativas ao processo judicial. Aqui as partes decidem as suas próprias questões com o auxílio do conciliador ou mediador. No Direito, chamamos isso de autocomposição.

Cada vez mais os profissionais da área jurídica enfrentam uma pluralidade de demandas com temas e saberes não jurídicos, como tecnologia, empreendedorismo e novos negócios. Acredito que para lidar com essas realidades tão recentes e impactantes ao Direito é necessário desenvolver novas habilidades e competências que não foram ensinadas na graduação.

É possível notar que grande parte dos conflitos tem origem na comunicação, é o caso de muitos mal-entendidos ou interpretações equivocadas nos relacionamentos interpessoais, de trabalho, com clientes etc. Segundo William Ury (2014, p.43) "entender o raciocínio desenvolvido pelo outro lado não apenas é uma atividade útil, que o ajudará a resolver o problema. Esse raciocínio da outra parte é o problema".

Quero compartilhar um comportamento indispensável ao processo de comunicação: escutar, escutar e escutar! Pode parecer óbvio a necessidade da escuta, mas é difícil escutar bem especialmente sob estresse e pressão.

Acredito que a escuta interessada permite entender as emoções, percepções e interesses de quem fala, o que, na maioria das vezes, representam as causas do conflito. Quando duas pessoas discutem sobre a compra de um equipamento novo, presumimos que o problema está no assunto "compra", quando, muitas vezes, o conflito está no modo como pensam a respeito do assunto, ou seja, no seu mindset.

A escuta superficial é um grande empecilho à comunicação. O oposto desse comportamento é a escuta ativa. Essa qualidade de escuta compreende
- escutar até o final, sem concordar ou discordar de imediato (se necessário interrompa para dizer "Estou entendendo. Você quer dizer ...");
- escutar para compreender e não para resolver (enquanto escuta, não formule respostas prévias como "Acho que você deveria ..." ou "Você já pensou em fazer assim?", apenas escute para entender o que aquela pessoa pensa, como se sente e do que precisa. Um exemplo de escuta compreensiva seria "Realmente deve ser difícil se sentir nessa posição. Você está querendo ... ? ou Do que você precisa e gostaria de pedir em relação a isso?");
- checar se compreendeu o que está sendo dito, solicitar a repetição da mensagem para evitar mal-entendidos (ex.: "Veja se compreendi, você está me dizendo que ..., é isso mesmo?")

Na comunicação, lidamos com as nossas diferenças. Entender não é concordar, mas pode ser acordar. A mediação trata dos conflitos através do redesenho das conversas ou, como aprendi na Ontologia da Linguagem, da reconstrução linguística dos conflitos.

É impossível não se comunicar. A escuta ativa é essencial para uma boa comunicação. Não precisa ser um mediador para começar a praticá-la. Comece hoje mesmo e boas conversas para você!

Fontes:
Echeverría, Rafael. Ontología del Lenguage. JCSáez Editor, 2008.
Malhadas Junior, Marcos Júlio Olivé, Psicologia na Mediação. LTR, 2014.
Mariotti, Humberto. Automatismo concordo-discordo e as armadilhas do reducionismo. Instituto de Estudos de Complexidade e Pensamento Sistêmico (www.geocities.com/complexidade), 2000.
Rosenberg, Marshall B. Comunicação não-violenta. Editora Ágora, 2006.
Ury, William. Como chegar ao Sim. Solomon Editores, 2014,